segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Carta da Vida, ou do entendimento do Eu com Você junto


Queria começar pelos conselhos,mas não tem.
Vou falar primeiro do homem maravilhoso que você é
De seus dedos retos e de como eles apontam para cima em suas fotos com as unhas extremamente retas e polidas
Das palavras pronunciadas sentado ao meu colo e das gargalhadas oferecidas sem pedi-las de volta
O seu sorriso é algo sem medida...
Você anda oferecendo e pedindo algumas coisas em troca.
Pedindo de volta sentimentos seus e sem demora
Na medida do que posso
O possível é lhe dizer que não posso devolver isso
Não posso não é porque não sinto
Mas é porque sentimentos são pessoais
Particulares íntimos
E viajamos em barcos distintos
Talvez rumo ao mesmo destino.
A passagem que compramos já faz mais de um ano
E você com sua pressa em arrumar as toalhas em algum lugar estratégico
Não deixou espaço para o tempo oxidar alguns de nossos panos
Esquecendo que nosso bilhete é sem rumo
Esquecendo que nossos mares são distantes
E embora sejamos rasos todos os dias
Meu coração é mais do que profundo em todos os instantes...
Eu ficava me perguntando o porque chamar te vida... E quando resolvo pensar formo logo a teoria:
Quando a gente a ama,
O oceano na barriga,
a gente sente essa vida que existe dentro da gente do lado de fora.
Esse mar que aproxima e une os continentes.
Eu sinto esse mundo em você,
Esse mundo que é meu e vem de dentro pra fora
É o mesmo mundo acredito estar em você,
Essa linha continua de vida que vem de fora iluminando a profundo;
Como o ponto mais fundo e escuro do oceano,
Até aquele ponto mais iluminado e solar que é nossa aparência.
É por isso que te chamo de vida
Porque tens essa metragem de conhecimento, como se fosse o todo eu em você,
E toda extensão fosse uma só vida minha
Essa é a relatividade! Mas isso não é pra você entender,
A mística é de difícil compreensão.
E é só preciso viver, todos os dias,
Porque a distância do ponto mais raso ao mais fundo é muito longa
e é preciso guardar ar,
sustentar a respiração milhões de vezes.
E agora que você já mergulhou onde te da pé, é preciso paciência e coragem para aprender a nadar. Submergir.
E ver até onde, na aguá, 
Vais aguentar ir...

                       Alexx Albert (11/1/18)

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Pesquei


Estou te deixando partir menino
Como um peixe fisgado e devolvido ao lago
Estou te deixando se livrar da sua poluição nesse lago poluído.
Eu não vou te polir .
Eu quero que se deixe polido por si mesmo
E que não faça demais além dos meros conselhos que lhe dei.
Eu não sou o dono da verdade da vida,
Só da vida o dono dos momentos em que te pesquei...

                       Alexx Albert

sábado, 25 de agosto de 2018

Costura

Eu admiro tudo em você
Todos os seus trocados
As brigas
As veias saltadas
O semblante de sono aveludado pela manhã
A saudade que me dói e me chateia
E quando presto atenção nas suas maneiras percebo que estou te perdendo pouco a pouco durante esse processo de distância
As cartas não são marcadas nem certeiras
Eu tenho medo nessa ideia de poder e ter poderes plenos...
Não é sobre mim
É sobre você
Não é sobre perder
Mas sobre permanecer no estado de amor
Não te subestimo
É que já sei como você é
E acredito que esse laço rompido
Não foi ainda costurado

Vamos aproveitar a linha de seus 25
E ver se lançamos com carinho
Algum tesão aveludado
E voltamos a interagir nesse moinho
Sem brigar com o que imaginamos
E sem perguntar o que não é de agrado

Só te peço que lamba a linha
Pra eu enfiar no buraco ...

                        Alexx Albert

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Frio

Ele não era safado
Nem manso
Nem belo
Nem contorno
Mas era bom estar com ele
Envolto em um pensamento calmo e cachos longos de permanente
Ele queria um beijo e um carinho terno
E eu o mandava voltar para o teatro sem medo de que esse conselho fosse inverno
Não há frio mais supremo
Que a falta de um chão madeira
E uma quarta parede cortina
Não ha inverno que resista a um holofote âmbar
Uma voz que ecoa
Ou uma cena precisa

                                    Alexx Albert

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Meios

Você não sabe
E nem eu sei se eu queria que você soubesse
Que meu caminho está no meio da rua
O caminho de ida e de volta é o mesmo
E eu estou estancado no centro
Quando estou contigo estou no meio do tiroteio
Eu não vou
Nem fico
Só sinto o vento de alguma cebola caída de algum caminhão baderneiro
Que tremeu o asfalto
E meu corpo inteiro

                                                           Alexx Albert

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Mudança!



Estou cercado de tapas
Tapados
Bulas
Bolinados pensamentos silvestres
Sobre mudar o próprio tempo
Com um intervalo de dois meses

Não sei o que isso quer dizer
Mas mudou!
Mudou de um dia pro outro

                   Alexx Albert

domingo, 11 de março de 2018

Resposta ao "When"


enquanto você pendurava as cortinas da casa
eu lembrava que mesmo os dias feios são bonitos
e que devemos manter as nossas flores abertas

enquanto você disfarçava o cheiro de sua tristeza
eu lembrava que devemos deixá-la exalar.
pelo seu trabalho o exaustor é útil,
e quando necessário: catalizar...

enquanto você pedia cura da criança que havia em você
eu lembrava que a criança já é pura mesmo debilitada;
a criança é a auto-cura

enquanto você colhia estrelas para guarda-las em seus olhos
eu lembrava daquelas que eu havia largado para te iluminar

enquanto você aprendia a ser uma pessoa melhor para alguém
eu lembrava que deste modo você estava sendo boa para si
e que isso é incomparável a questão do ser

enquanto você se jogava nos precipícios
eu lembrava que a vida é feita desses voos
às vezes estancamos em solos
às vezes estamos soltos
mas devemos prosseguir

enquanto você tentava se tornar eterna
eu lembrava da arte de expressar o feminino batom vermelho que carrega
e que eterno é o que agrega

enquanto você tentava ser una para alguém
eu lembrava que às vezes nos perdemos nos caminhos do coração

e,

acredite,

o caminho às vezes é sem direção...

                      Resposta ao poema "when" de Virgínia Cavalcanti que tanto me traz sabedoria e inspiração
                                                                             Alexx Albert

quarta-feira, 7 de março de 2018

Caetano


Eu acordei pensando em Caetano

Caetano é alguma coisa
Caetano estava ao meu lado
Caetano não é esse Caetano
Caetano não é daqui nem da Bahia
Caetano é outro Caetano
Caetano que rima comigo
Caetano que dança
Caetano que brilha
O corpo de Caetano brilha quando dança
Os meus olhos brilham quando Caetano dança

As vezes acho que Caetano é mudo
Caetano fala mais durante o sexo que em outro
Caetano geme e eu lembro
Que a fala de Caetano é mansa, baixa
Caetano e a voz gostosa
A bunda gostosa de Caetano
Caetano parece ter o pensamento preso
O pensamento bula de Caetano

Caetano atravessa a ponte
Caetano reclama mais baixo do que quando fala
Caetano é baixo
Mas o cabelo de Caetano é alto
O cabelo de Caetano é moldura moldável em rosto acre
Rosto rude de Caetano
Mas quando o sorriso abre Caetano é doce
Não! Caetano é sempre doce!

Caetano na janela é foto
Na cama Caetano é mesa
Depois Caetano é banho, às vezes não.
A ancestralidade de Caetano cheira
As narinas largas de Caetano respiram
Inerte Caetano
Caetano de cheiro que eu prefiro
Na barba e atrás das orelhas de Caetano
Caetano que eu prefiro na semelhança
Entre os olhos e a bunda de Caetano
As jabuticabas de Caetano
O mistério que Caetano tem por dentro
Caetano que eu só conheço por fora

Caetano que eu não sei nada!
Exceto que Caetano dança...
Caetano é miscelânea
E eu nunca entendo a dramaturgia de sua cena contemporânea

                              Alexx Albert